O Verbo da Vida Sede, de Campina Grande (PB), realizou no último sábado, 07.10, a sua primeira formação sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), para profissionais da saúde e educação, voluntários do Departamento Infantil de igrejas, entre outras áreas que trabalham com crianças atípicas. Com o tema Intervenção e Acolhimento, o treinamento teve como objetivo o conhecimento, discussão, interação, além de apresentação de material de apoio em uma imersão no mundo do Espectro Autista.

O casal Ferreira e Vanessa, líderes do departamento Infantil do Verbo Sede, foram os dirigentes do evento e recebeu os participantes com muita alegria. “Este evento foi gerado há muito tempo. Fica pronto para muitos conhecimentos sobre o mundo TEA. Fica pronto que a nossa viagem vai começar”, disse ele. “Temos um filhos autista e Deus tem feito grandes coisas. Estamos bem animados com esse treinamento”, falou Vanessa.

Juliana Lima, primeira dama de Campina Grande (PB), foi convidada a falar sobre sua experiência com o autismo. “Quando Bruno assumiu a prefeitura, sonhamos muito em realizar muitas coisas, mas não podemos fazer tudo o que queremos. Mas Deus tem levantado pessoas para tocar no coração de outras para que se envolvam mais. Um evento como esse mostra que estamos dividindo a nossa carga. Quando vejo um evento como esse acontecendo, eu penso como é bom a igreja estar se envolvendo com essa causa e conseguimos ajudar mais famílias. Quando ajudamos essas famílias estamos levando o amor de Deus para elas”, falou Juliana.

O papel da igreja no acolhimento

Juliana Borba, coordenadora do departamento Infantil e de Inclusão do Verbo Sede, saudou É uma alegria ter cada um de vocês. Vamos ter um tempo muito precioso. Preparamos tudo com muito carinho. Você vai sair daqui com o coração enriquecido. Nós estamos aqui porque somos resposta. trouxe a primeira preleção da tarde. Ela falou sobre Inclusão é uma palavra que tem sido roubada pelo mundo. “Acolhimento é como devemos ver a inclusão de uma forma correta. Na essência de Deus encontramos o acolhimento, é trazer para perto. Deus não faz acepção de pessoas. A igreja é esse lugar que representa o coração de Deus, onde Ele se manifesta e traz Sua graça”, disse Juliana.
A ministra disse que existe um desafio para quem cuida de um criança atípica. A Igreja precisa ser esse ambiente seguro, onde as pessoas se sentem à vontade para estar aqui. Na nossa igreja temos a brinquedoteca, que é um local de acolhimento. Juliana falou ainda que as igrejas de uma forma geral estão sendo despertadas. E acrescentou: “Nós, como Igreja de Cristo, como Verbo da Vida, entendemos que existem ferramentas naturais, terapias, formas de fazer intervenção para auxiliar no desenvolvimento das crianças e adolescentes”.

Juliana também disse que as ferramentas naturais junto com as ferramentas sobrenaturais fazem algo explosivo para Deus. Temos experimentado em nossa igreja a bondade de Deus em manifestação sobre as famílias que têm crianças atípicas. “O diagnóstico não é um fim. É um lugar de partida. Quando você agarra as ferramentas naturais e sobrenaturais você alcança a bondade de Deus. Existe um desenvolvimento neurológico que vem de forma sobrenatural quando as pessoas abrem o coração para receber de Deus”.
Por fim, Juliana falou que Deus não se move simplesmente porque há necessidade. “Nós, muitas vezes, vamos nos deparar com diagnósticos de impossibilidades. Mas quando as pessoas pegam a oportunidade da intervenção divina, Deus não faz acepção de pessoas. Não desprezamos a ciência, mas muito menos o poder de Deus”.
Manejo de comportamento

Paula Campos, fonoaudióloga e mestranda em Psicologia da Saúde, por sua vez, falou sobre o Manejo de Comportamento. Ela explicou sobre o que é TEA, as características que a pessoa apresenta nessa condição e os níveis de suporte para o transtorno. Em seguida, a profissional falou sobre as dimensões da abordagem ABA (Aplicada, Comportamento, Análise), que segundo ela não é um método e sim uma estratégia para intervenção com as pessoas atípicas. Paula disse que essa abordagem evoluiu para ajudar a criança atípica para que se sinta feliz, relaxada e engajada.
Em seguida, Paula falou sobre o comportamento. Segundo ela, o comportamento é a interação entre o organismo e o ambiente, onde um modifica o outro. Paula disse que há uma tríplice contingência para reforço do comportamento: A MOTIVAÇÃO (OM) que induz e um CONTEXTO (SD), que é a ocasião para uma RESPOSTA, que produz uma CONSEQUÊNCIA (SC).

“Se eles não aprendem do jeito que a gente ensina, nós ensinamos do jeito que eles aprendem.”
A fonoaudióloga ainda explicou o comportamento interferente do autista, que tem consequências prejudiciais para o indivíduo que se comporta e pode impedir que comportamentos mais efetivos sejam aprendidos até criar algum tipo de isolamento porque outras pessoas são prejudicadas. Esse comportamento interfere na qualidade de vida das pessoas. Logo depois, ela elencou as principais causas do comportamento interferente. Com exemplos, ela falou da autoestimulação e a atenção por parte de terceiros.
Paulo ainda falou sobre os tipos de intervenção nesse comportamento da criança autista, como a prevenção e o ensino de habilidades, com a elaboração de um programa de intervenção. Ela disse que, para alterar estímulos antecedentes, é preciso eliminar a ocasião e modificar o que motivou o comportamento indesejado. Assim, a intervenção é feita com um ensino do simples para o complexo, avaliação constante e ter objetivos claros e observáveis a longo, médio e curto prazo, além de um programa de habilidades iniciais.
Enfrentando a seletividade alimentar

A nutricionista, graduada em Educação Especial e especialista em ABA, Luci Medeiros, que se designou uma pessoa atípica com TDAH, foi a responsável pela preleção sobre seletividade alimentar. De acordo com ela, a seletividade alimentar á um fenômeno comum no TEA. Ela começou dizendo: “Para evitarmos uma alimentação não permitida não devemos ter em casa. A criança precisa entender que o momento da alimentação é um momento especial”.
Luci falou que devemos compreender como funciona a seletividade alimentar no TEA. Ela mostrou que distúrbios sensoriais pode prejudicar a sua alimentação, como barulhos que alguns alimentos causam, bem como a dificuldade de compreender o tempo e o comportamento à mesa. Para isso, é preciso ter cuidado com a má alimentação, como excesso de açúcar, de proteína e alimentos processados. “Muitas vezes porque não aguentamos, cedemos e vamos ter consequências”, comentou.
“Com perseverança e criatividade, é possível vencer a batalha contra a seletividade alimentar. O desembalar é mais rápido que o descascar.”

A nutricionista, então, orientou criarmos um ambiente agradável que possa influenciar a disposição de experimentar novos alimentos, evitando distrações como televisão ou telefone celular. Para ela, é preciso envolver as crianças com a “escalada do comer”. Assim, Luci deu um passo a passo para a criança comer: tolerar, interagir, cheirar, tocar, provar e comer.
Ela também falou que devemos perguntar à criança o que ela acha, qual deveria ser o cheiro, o que ela pensa da textura e outras opiniões que vão ajudar a tornar o processo mais natural. “Ao longo da escalada você vai estabelecendo limites e vai conseguindo o que você quer. Em todas as etapas, é importante existir o estímulo da curiosidade, estabelecer horários, evitar adicionar guloseimas e transformar o momento das refeições em algo prazeroso”, finalizou.
Rotina Familiar para Famílias Atípicas

Lucyane Guimarães, formada em Administração, Gestão Empresarial e Finanças, trouxe uma reflexão sobre o estabelecimento de uma rotina familiar para famílias atípicas. “Após o diagnóstico do autismo, a família passa por alguns desafios. O autismo é um quebra-cabeça que precisa da família para que seja montado um jogo de sucesso”, disse Lucyane.
A administradora lembrou que, após o diagnóstico, a família se depara com uma série de situações: a perda do filho idealizado, com um confronto por uma situação que exige ajuste familiar, com a necessidade de um cuidado prolongado e atento, níveis de estresse aumentado, qualidade de vida social diminuída, dificuldade do relacionamento interpessoal da criança e necessidade de ajustes à nova realidade.
“Persistir é um trabalho de formiguinha que leva tempo. O segredo é persistência e consistência.”

Mas Lucyane também afirmou que os processos de intervenção precoce que têm mais resultados são aqueles que os pais são participantes. Ela contou como a sua filha foi influenciada positivamente após sua ida à igreja e receber todo o acolhimento que ali existe. Ela evoluiu bastante ao participar de atividades na igreja. “Quando a criança coloca suas habilidades em prática cria um estado de tranquilidade, pois desenvolve a consciência de saber ser capaz”, falou a profissional.
Lucyane também apresentou como as crianças autistas se beneficiam de um sistema bem estruturado, sendo ensinadas sobre a importância da rotina, com a manutenção de horários para as diversas atividades do dia a dia. E comentou: “A rotina é fundamental e a parte principal tem que partir da família. É importante incluir recursos visuais sobre a rotina. A rotina estabelece a segurança, estrutura, previsibilidade e antecipação, que gera segurança e regulação”.
Optometria e TEA

Francisco Jobmaster, terapeuta visual, ficou responsável de falar sobre o processamento neurovisual e como isso afeta o comportamento das crianças com TEA. Assim, ele apresentou inicialmente como funciona a visão humana, desde os reflexos primitivos do recém nascido. Ele disse que o vínculo de amor da mãe com o filho tem sido quebrado por causa do uso do celular. As mães têm dado menos tempo de contato com o bebê.
O palestrante falou que a visão está em contato com todos os nossos sistemas. Estudos mostram que a maioria dos autistas têm problemas de visão. Segundo ele, a tecnologia trouxe um estímulo visual muito grande para as pessoas e isso é muito ruim para os autistas. “O cérebro é inteligente e, se for estimulado, vai se adaptar aos estímulos. Assim, as terapias visuais organizam o processamento neuro visual, produzindo evolução eficaz no progresso do autista”, afirmou Jobmaster.

Através de uma demonstração com voluntários, ele mostrou a importância do uso dos dois olhos para calcular a distância para um objeto e, através de outra, como uma pessoa reagiria se ficasse estrábica de repente e outra sem noção espacial. Ele falou que, com o uso de óculos você melhora sua deficiência visual.
Francisco ainda disse que uma boa maneira para o equilíbrio e um bom neuro desenvolvimento ainda é junção de uma alimentação saudável, prática de exercícios e a socialização.
A mãe atípica

O grupo de louvor, liderado por Wivian Klart, levantou os participantes da formação com canções com o ritmo nordestino, acompanhado de sanfona, triângulo e zabumba. Todos juntos cantaram: “Graça, maravilhosa Graça. Graça, abundante Graça”.
Ainda nesse clima de adoração, Wivian contou sua experiência: “Quando o autismo chegou em minha casa, eu não estava preparada. Eu vivi realmente um momento de luto. Foi quando decidimos fechar as portas e ver o que a gente tinha e começamos a nossa aventura. É importante nos localizar quando a tempestade vem. Fomos à despensa do coração e nos perguntamos: O que cremos? Onde estamos? E o que temos? E respondi: Eu creio na Palavra. Estamos em Deus e temos a fé em Deus”.

Wivian questionou sobre o porquê estava vivendo aquela experiência. Ela disse que, para cada dúvida, as respostas chegava, a luz chegou. A cantora ainda lembrou do que Jesus falou para o cego: “O que você quer que Eu te faça?”. “Eu proponho pra você, esta noite, localizar o que você quer que Jesus faça para você”.
A ministra leu em II Reis 4 a história da viúva que contou sua situação para o profeta Eliseu. Ele, então, perguntou para ela: “O que eu posso fazer para ajudá-la?”. Eliseu deu algumas instruções para a viúva, que obedeceu e foi abençoada. O que ele pediu para ela usar era o azeite da sua casa, que se multiplicou. Então Wivian perguntou: “O que você tem em casa?”. E falou que com o que temos em casa, mesmo que seja uma pequena vasilha, Deus pode produzir um milagre.
Ao final de sua palavra, Wivian chamou os pais de crianças atípicas para recebessem oração.
Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA)

A penúltima palestrante foi Vilma Araújo, neuropsicopedagoga, que falou sobre Sistemas de Comunicação Aumentativa e Alternativa: O que é e quais os benefícios. Ela disse que o seu maior currículo é ser mãe. Assim ela contou sobre sua experiência de ser mãe de um jovem autista, que foi diagnosticado quando tinha 8 meses de vida.
Vilma falou que, para que haja liberdade de comunicação eu preciso de duas pessoas, um comunicador e um receptor. É direito de todos nós se comunicar. “Precisamos desenvolver a comunicação do outro. Precisamos achar uma forma de dar acessibilidade às pessoas à comunicação”, disse a palestrante.
“Comunicação é acessibilidade, é direito do cidadão.”

A neuropsicopedagoga explicou o significado da Comunicação Alternativa Aumentativa (CAA) é um instrumento de acessibilidades para essas pessoas”. Ela deixou claro que, em uma Comunicação Alternativa, o indivíduo utiliza outro meio para se comunicar ao invés da fala. Já na Comunicação Aumentativa, o indivíduo complementa ou compensa deficiências da fala, sem substituí-la totalmente. As duas juntas são conhecidas como CAA, que é um sistema integrado por quatro componentes: símbolos, recursos, técnicas e estratégias.
Para finalizar, ela apresentou uma série de recursos materiais e estratégias que são utilizados para ajudar na comunicação das crianças autistas. Esses recursos podem ser de baixa ou alta tecnologia, como vocalizadores, aplicativos para tablets e celulares, cartões, pranchas e livros de comunicação, e PECS, abordagem que ensina habilidades de comunicação com figuras. “Todos têm o direito a um sistema de comunicação eficaz”, disse Vilma.
Elaboração de Atividades Adaptadas

Débora Barbosa, ficou com a última apresentação, baseada na elaboração de atividades adaptadas para crianças neurodivergentes. Ela fez inicialmente uma dinâmica de um quebra-cabeça, mostrando que as peças não precisam se encaixar completamente, mas a sua cor é que vai fazer a diferença. Da mesma forma ao lidarmos com as pessoas não podemos exigir perfeição, mas valorizar aquilo que elas apresentam de bom.
A ministra perguntou em seguida: “Quando você vê uma pessoa com TEA, você vê um cérebro andando ou uma pessoa com o potencial de Deus?”. Ela disse que o neurodivergente é uma pessoa altamente inteligente, com o cérebro acelerado, que precisa de freio. Ela tem um cérebro diverso. Isso mostra que não existe um único padrão “normal” de funcionamento cerebral, e que as variações neurocognitivas são comuns e úteis.
“Você só vai conseguir fazer qualquer coisa na sua vida se for através do amor.”

Débora focou a segunda metade da sua ministração na igreja acessível. Segundo ela, essa igreja conhece a criança, oferece um ambiente calmo e previsível, usa apoios visuais, histórias simplificadas, comunica-se de forma visual, ensina conceitos chave, tem atividades interativas, incorpora interesses pessoais, comunica-se com os pais, dar apoio individualizado, é paciente e flexível, e inclui e aceita.
Finalmente, ela apresentou diversos materiais que podem ser utilizados com alternativas para interagir com as crianças atípicas. Débora disse que nada disso vai funcionar se uma criança estiver com um comportamento que esteja atrapalhando a aula. O que vai funcionar nesse caso é parar a aula e dar uma coisa para essa criança. “Quanto mais o amor for intenso, mais ele aparece”, finalizou Débora.

“A formação foi preparada com muito carinho para aproveitarmos os profissionais que temos em nossa igreja. Como igreja, nós somos resposta. O Senhor está contando com você para se aprofundar nesse tema. Eu entendo que é um despertar e dessa formação muitas outras vão nascer”, falou Juliana ao se despedir da formação.