Como se perde a sensibilidade para com Deus? Como evitar esse processo e preservar essa sensibilidade?
Quando a Palavra diz que, assim como as águas cobrem o mar, toda a terra se encherá da glória de Deus, estamos esperando com expectativa este derramar, esta manifestação de Deus. Contudo, a expectativa de um avivamento coletivo não deve servir de desculpa para não vivermos um avivamento pessoal.
Podemos fazer uma escolha: ao escolher viver um avivamento pessoal, impactaremos as pessoas ao nosso redor.
“Far-me-ás ver a vereda da vida; na tua presença há fartura de alegrias; à tua mão direita há delícias perpetuamente” (Salmo 16.11).
Os caminhos de vida
Quando o salmista começa dizendo “tu me farás ver o caminho da vida”, entendemos que o caminho é um trilho que leva a um destino específico. Esta é uma expressão muito utilizada na Bíblia. Quando ele fala dos caminhos da vida, está afirmando que o Criador não criou sem propósito. Ele tem um trilho e nós caminhamos nessa jornada do propósito. Na segunda parte, ele fala sobre o propósito definido dos caminhos da vida: a presença de Deus. Os caminhos da vida deveriam nos conduzir para a presença de Deus. O texto menciona uma alegria completa, não como um sentimento passageiro, mas como algo eterno.
Adão e Eva foram criados por Deus e, antes da queda, tinham pleno acesso a Ele. Apesar de Deus ter criado o homem para acessar esse lugar, Ele também deu outras formas de alegria. Quando Deus criou a mulher e pediu ao homem que se relacionasse com ela, estava mostrando outro tipo de alegria. Quando criou uma variedade de alimentos, Ele criou outra forma de alegria. Deus nunca se opôs ao fato de o homem ter outras formas de alegria; Ele apenas deixou claro que nenhuma delas se aproxima da plenitude de alegria que existe em Sua presença.
Preservando a sensibilidade
Mesmo permitindo que o homem tenha outras formas de alegria e deleite, Deus criou limites que não podem ser ultrapassados. Quando o homem violou esses limites, perdeu o acesso a essa alegria plena, que foi reconquistada pelo sacrifício de Jesus. Contudo, Davi, que escreveu nosso texto base, encontrou um lugar diferenciado antes da redenção em Jesus. Ele encontrou um profundo lugar de adoração em Deus, mas também ultrapassou os limites do proibido e procurou alegria onde não deveria.
A pergunta que fica é: como Adão e Eva, com pleno conhecimento de Deus, abriram mão dessa alegria por algo que não deveriam? Como Davi trocou o lugar que encontrou em Deus por uma alegria barata? E mais: isso pode acontecer conosco? Diversas vezes no Novo Testamento somos alertados, como em Hebreus 3.12-13, para que aqueles que já conhecem o Senhor não se afastem d’Ele.
“Para que nenhum de vocês seja endurecido pelo engano do pecado.” Existe um risco real de isso acontecer. Como se perde a sensibilidade para com Deus? Como evitar esse processo e preservar essa sensibilidade?
Quem não valoriza, não busca
O motivo que mais me tem levado ao lugar de jejum é a capacidade de perceber os deleites do sobrenatural. Assim como o jejum natural aguça nosso paladar, na vida espiritual, somos despertados para novos deleites na palavra de Deus.
A primeira coisa importante a destacar é: quem não valoriza, não busca. Por isso, precisamos de sensibilidade para valorizar.
“Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; de outra forma, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus” (Mateus 6.1).
Quem valoriza encontra tempo – você corta outras coisas que não são importantes para valorizar o que realmente é. A percepção de valor determina o trilho; ela mostra o caminho. A moeda de troca no Reino de Deus, no sentido de interação e acesso, não é dinheiro. É interesse. Deus dará água a quem quer água, a quem valoriza água.
O perigo das distrações
Deus não entrega nada a quem não valoriza. Quando o povo estava no deserto e pediu a Moisés que falasse com Deus em nome deles, a partir daquele dia, Deus nunca mais falou com o povo sem ser por Moisés – não porque Ele obedece ao povo, mas porque Ele não fala com quem não O valoriza. Quando você analisa a Palavra, encontra esse princípio acontecendo de maneira recorrente: aquele que tem interesse, aquele que valoriza, é satisfeito.
Se quem não valoriza não busca, o que nos impede de valorizar mais a Deus para buscá-lO? As distrações.
“Ninguém pode servir a dois senhores, pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mateus 6.24).
O pecado é uma afronta contra Deus, isso é indiscutível. Mas há um inimigo menos hostil que o pecado, que parece não ser um problema, mas tem trazido muito dano: as distrações.
A dificuldade dos tempos
Em Lucas 8.14, Jesus conta a parábola do semeador e cita os espinhos, que são os prazeres da vida e sufocam a semente da palavra. Muitas vezes, entramos em um modo de valorização tão alta dos prazeres lícitos que não percebemos que estamos valorizando esses prazeres em detrimento do amor a Deus.
“Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis. Os homens serão egoístas, avarentos, presunçosos, arrogantes, blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, ímpios, sem amor pela família, irreconciliáveis, caluniadores, sem domínio próprio, cruéis, inimigos do bem, traidores, precipitados, soberbos, mais amantes dos prazeres do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando o seu poder. Afaste-se desses também” (II Timóteo 3.1-5).
A dificuldade dos tempos tem mais a ver com o comportamento humano do que com a realidade física. A busca desequilibrada pelos prazeres pode bagunçar completamente sua vida. Quando entendemos que a busca e a valorização dos prazeres nos afastam de Deus, podemos concluir que valorizá-lO em detrimento dos outros prazeres, mesmo que sejam lícitos, é a forma de nos mantermos sensíveis a Ele.
Como entramos nesse lugar?
Se os caminhos da vida que acessam a presença d’Ele pudessem ser vistos de forma automática e natural, não precisaríamos de Deus. Quando o versículo fala que Ele nos faz ver os caminhos da vida, está falando sobre revelação. Precisamos da revelação de Deus, mas, para Ele revelar, precisamos desejar.
“Mas o que para mim era lucro, passei a considerar perda, por causa de Cristo. Mais do que isso, considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por cuja causa perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco, para poder ganhar a Cristo” (Filipenses 3.7-8).
Por causa do conhecimento d’Aquele que sobressai, que está acima de tudo, que tem um valor incomparavelmente maior – tudo se torna perda. Mas como entramos nesse lugar? Deus quer, e nós precisamos buscar.
Quando falamos sobre entrar na revelação da importância, sem Deus não conseguiremos, mas por que nem todos têm essa revelação, se Deus quer que todos a tenham? Porque também depende do nosso interesse – e isso nos leva a uma prática fundamental da vida cristã:
Por que jejuar?
Na Bíblia, não se diz “se jejuardes”, mas “quando jejuares”. Por que jejuar? Quando Jesus estava sendo tentado por Satanás no deserto a transformar pedras em pães, Ele estava em um momento desesperador de fome. Satanás não estava tentando Jesus a quebrar o jejum, mas a obter acesso rápido à comida. Mas Jesus responde que nem só de pão viverá o homem. Mesmo em um nível de desespero, Ele diz: minha fome não é maior do que a fome que tenho pelas coisas espirituais.
“E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conhecias, nem teus pais o conheciam; para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor viverá o homem” (Deuteronômio 8.3).
Deus não deseja que vivamos constantemente na fome, caso contrário, Ele não teria criado a abundância para nós. Humilhação e fome não são estados permanentes, mas são experiências ocasionais necessárias para nos trazer de volta ao nosso foco espiritual. A Bíblia ensina que essas práticas não devem ser impostas, mas escolhidas. O jejum, quando praticado de forma intencional, expande nossa compreensão sobre o valor das coisas espirituais e nos direciona para aquilo que é do alto. Essa prática ajusta nossa perspectiva como cristãos, nos mantendo sensíveis a Deus e revelando as delícias eternas e a plenitude de alegria que só podemos encontrar na Sua presença.
Dois elementos práticos que abrem a compreensão: humilhação e fome.
A palavra “jejum” no Novo Testamento significa literalmente “abster-se de alimentos”. Contudo, na nossa cultura, o jejum foi ampliado para qualquer forma de abstinência, e essa generalização pode nos desviar da essência da prática. O verdadeiro jejum envolve um sacrifício físico que impacta diretamente nossa carne e nos conecta com a nossa dependência de Deus. Quando sentimos fome física, somos lembrados de que nossa verdadeira satisfação vem do Senhor, e não apenas das coisas terrenas.
Além do jejum físico, a Bíblia nos ensina sobre outros tipos de abstinência que nos ajudam a manter o foco no espiritual. O próprio Jesus demonstrou isso em várias situações, mostrando que a vida de devoção requer renúncia. A busca por prazer momentâneo, embora não seja pecado, pode facilmente desviar nossa atenção do que é eterno. Esse é um dos maiores desafios do cristão moderno: viver em um mundo saturado de distrações e prazeres lícitos, mas sem perder a sensibilidade para as coisas de Deus.
Ao entender o papel da humilhação e da fome, tanto física quanto espiritual, nos aproximamos mais da realidade do Reino de Deus. Precisamos abraçar essas práticas com o coração certo, sabendo que o Senhor deseja que vivamos em abundância, mas também deseja que busquemos a Ele acima de todas as coisas.
A busca pelo avivamento pessoal
A expectativa de um grande avivamento coletivo é uma realidade bíblica que todos nós, como Igreja, devemos ansiar. No entanto, Deus também deseja que experimentemos um avivamento pessoal. Essa experiência começa em nós, na nossa vida de devoção e na forma como cultivamos nossa sensibilidade para com Deus. Ao praticarmos o jejum, a oração e a abstinência de coisas que, embora lícitas, podem nos distrair, começamos a perceber mais claramente os caminhos da vida que nos levam à presença de Deus.
O avivamento coletivo não pode ser uma desculpa para negligenciarmos o avivamento individual. Se cada um de nós buscar viver essa realidade pessoal, o impacto nas pessoas ao nosso redor será inevitável. Como resultado, o avivamento que tanto esperamos começará dentro de nós e se espalhará, tocando todas as áreas de nossas vidas e comunidades.
Por isso, o chamado hoje é para que cada um de nós preserve a sensibilidade espiritual, valorizando as coisas de Deus acima de qualquer outra coisa. Que possamos viver uma vida de renúncia consciente, de busca intencional e de jejum genuíno, mantendo nosso coração sensível para ouvir a voz de Deus e experimentar Suas delícias perpétuas.
*Trechos da mensagem do dia 12 de setembro de 2024, na Conferência Avivamento & Milagres.